RELEITURA
O hábito de o artista recorrer a obras do passado é muito antigo. Por séculos, os artistas perseguiram o belo-ideal, elegendo os modelos clássicos que procuravam imitar. Há inúmeros exemplos na história da arte. Para citar os mais próximos, no século XIX o artista quis reavivar vários passados fundindo-os ecleticamente. As vanguardas do século XX expressaram sua sensibilidade conflitiva, espelhando-se no seu próprio tempo. Hoje, a arte refletindo sobre si mesma mostra que o artista contemporâneo visita o passado e expressa por meio de citações, transfigurações, análises conceituais e reinvenções. No cenário nacional, os anos 80 fizeram da releitura uma prática e uma reflexão.
No ensino de arte a introdução da releitura em sala de aula se deve a mudança conceitual deste. Na nova concepção a arte é tratada como forma de conhecimento e não um fazer por fazer. Ensinar arte é desenvolver o pensamento artístico-estético. Retomando as palavras de Ana Mae “Na pós-modernidade o conceito de Arte está ligado à cognição; o conceito de fazer arte está ligado à construção e o conceito de pensamento visual está ligado à construção do pensamento a partir da imagem”. Com isto a imagem entra na sala de aula e até se torna “obrigatória”.
A prática da releitura tornou-se, por vezes, corriqueira nas aulas de Artes como forma de aprofundar o estudo de determinado autor. A princípio acreditava-se que ao fazer um trabalho parecido com a peça original este poderia ter o status de releitura. Confundida com cópia, a releitura é divulgada como uso freqüente por professores leigos, sem formação. Engano: para realizá-la de verdade, o aluno deve personalizar sua produção e ter a intenção de transmitir uma nova mensagem com ela.
Trabalhar o processo de criação e imprimir uma marca pessoal são pressupostos fundamentais de uma releitura. Marca pessoal pode ser o predomínio de certas cores – ou ausência delas – pode ser um traço ou um elemento visual.
Assim como há diferentes interpretações de um texto visual, há diferentes possibilidades de releituras desse texto. A releitura será sempre coerente com a compreensão que o aluno constrói na leitura de uma imagem/obra. Ler obras de arte tornou-se fundamental ao processo de releitura.
Equívocos da releitura
- É freqüente achar que crianças pequenas (educação infantil ou séries iniciais do ensino fundamental) não conseguem fazer releituras. Elas expressarão de acordo com sua idade.
- Releituras não precisam ser feitas na mesma linguagem. Uma tela pode se transformar em uma escultura, por exemplo. A passagem de uma para outra técnica pode ser positiva por dar maior liberdade de criação.
"Os artistas não criam num vazio. Eles são constantemente
estimulados por outros artistas e pelas tradições artísticas do passado”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário